Marcelo Gleiser - O novo ser humano: tecnologias genéticas e digitais

 A gente não tem a menor ideia do que que é o inconsciente humano. A gente nem sabe como o cérebro constrói a sua pessoa subjetiva. 

Então, daí até você dizer que vai poder transferir esse tipo de informação, armazenar esse tipo de informação e daí ter uma existência digital, é um pulo absolutamente gigantesco.

Nem todo mundo quer ser imortal, porque... Vamos dizer que você vire imortal e os outros em volta de você não virem, então você vai ver todo mundo de quem você gosta morrer, você vai ver uma série de transformações, e isso é muito difícil. 

Então, ou vai todo mundo, ou não vai ninguém, vamos dizer assim. Porque, se forem só alguns, esses alguns vão se tornar um outro tipo de criatura, com uma mentalidade, uma filosofia existencial completamente diferente da nossa. 

Agora, você me pergunta se eu faria esse upload, - e a resposta é: sim.

- Você faria? Com certeza. Se fosse possível, eu faria, porque para mim não existe nada mais fascinante do que estar vivo, estar presente. 

Se há uma coisa que eu aprendi e que eu faço no meu dia a dia é me apegar à vida com unhas e dentes. Então, se a opção no futuro é essa, a única opção no futuro é essa... 

Eu preferiria não, eu preferiria continuar do jeito que eu estou. Tem o feito dos vampiros, né, mas vampiro também não é muito bom porque não consegue sair de dia, e daí fica complicado. 

Mas, tirando os vampiros, que resolveram esse problema de uma outra forma, se você não consegue se preservar da maneira que você está hoje e se a forma for através de uma digitalização da sua consciência, eu gostaria de arriscar isso contanto que eu tivesse a opção – eu, ou seja lá que criatura for essa – de desligar o programa se eu quisesse. 

Eu não quero perder o meu livre-arbítrio, porque a maior escolha que um ser humano pode fazer é se quer viver ou morrer.

E se você perde isso, daí você realmente perde o seu livre-arbítrio de uma forma muito profunda, e eu nunca gostaria de perder essa escolha. Mas a revolução genética, essa sim está chegando muito mais rápido e essa sim é concreta, é real.

E a nossa expansão digital, através não só de celulares – mas vão acontecer muitas outras coisas no futuro próximo –,essa também é muito concreta. Mas esse quadro de transcendência digital, vamos dizer assim, essa ainda tá longe – e nem sei se é possível, para ser sincero. 

Com essas novas tecnologias genéticas e digitais, a gente não vai só preservar a nossa essência corpórea, viver mais tempo etc.,   mas a gente vai ter a capacidade de se reinventar como criatura. 

Então, isso nunca aconteceu na história da humanidade, a gente nunca teve a capacidade de se reinventar.

A gente seguia a evolução por seleção natural, mutações etc., de uma forma meio passiva, as coisas iam acontecendo. Mas agora não, a gente tomou as rédeas da evolução nas nossas mãos. 

E isso é muito profundamente diferente do que acontecia com a gente no passado. Então, essa conversa que eu tive com vocês em que a gente vai ser capaz de desenhar novos tipos de seres “humanos”, entre aspas, porque humanos somos nós, esses vão ser uma outra coisa, isso já não é ficção científica.

Isso é questão de quando vai acontecer e quem vai fazer primeiro. E quais vão ser os regulamentos: como nós vamos regulamentar isso, quem vai decidir isso?

Transcrição do Vídeo. Marcelo Gleiser - O novo ser humano: tecnologias genéticas e digitais.

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